sábado, 28 de junho de 2008

Curtinha

Peruca chanel pendurada na janela azul royal. Tapete de pele de urso manchado de vermelho-beterraba. Vestido encardido, mas muito bem engomado, pendurado no cabide. Lençol de cetim esmeralda desalinhado na cama. Vaso imitação da West Elm quebrado. Retratos miúdos de pessoas mortas. Telefone colonial decalcado fora do gancho. Luminária de teto em fio de alumínio rosa-lábios. Esmalte ressecado e papel de bala amassado. Relógio apontando uma hora da manhã. Pulsos finos, dedos magros tocam o play do mini system. Solto baile solitário sobre o piano de Brad Mehldau.

Era uma desordem.
Era o seu mundo em progresso.

domingo, 22 de junho de 2008

Matrix

A loucura perdeu-se de mim quando aceitei o inevitável. Antes era banhada por insônias infernais e revoltas. Fazia recair sobre mim uma porção de coisas que não desejava. Naquela escuridão que me encontrava não era capaz de compreender o conselho do filósofo William James: "Aceite de boa vontade que assim seja. A aceitação do que aconteceu é o primeiro passo para se dominarem as conseqüências de qualquer infortúnio".

Quando aceitei o inevitável, caminhei para frente. Não me importei mais com o que havia acontecido. Passei meses escondendo o sofrimento íntimo, sorrindo e seguindo o meu caminho.

Deixei de lamentar um passado que se foi para sempre. Agora, vivo com alegria. Fiz as pazes com a vida. Vivo, agora, uma existência mais cheia e completa. Ainda penderei na parede do meu quarto as palavras de Jorge V, rei da Inglaterra: "Ensina-me a não chorar pela lua nem diante de leite derramado". Um lembrete para que possa me transformar nos momentos difíceis.

As circunstâncias, por si sós, não nos tornam felizes nem infelizes. Não podemos nos deixar levar pelas flutuações da existência. Não podemos deixar o humor flutuar e ficar à mercê dos acontecimentos. Faz-se necessário mantermo-nos firmes em nosso centro. Porque é a maneira que reagimos ante as circunstâncias que determina os nossos sentimentos.

Todos nós podemos suportar os desastres e as tragédias. A verdade é que todos nós temos recursos interiores surpreendentemente poderosos, capazes de nos fazer superar os obstáculos. Somos mais fortes do que julgamos. Muito mais!

"Eu aceito o Universo". Por mais que lamentemos, que nos ponhamos a espernear, que nos torturemos, não mudaremos o inevitável; mas podemos mudar nós mesmos. Eu bem o sei. Já o experimentei.

Conheci uma história interessante:

"Passei doze anos trabalhando com gado – mas nunca vi uma vaca Jersey ficar com febre porque o pasto estivesse quase em fogo por falta de chuva, ou por causa de granizo ou de frio ou, ainda, porque o companheiro estivesse prestando demasiada atenção a outra bezerra. Os animais enfrentam a noite, as tempestades e a fome calmamente, de modo que jamais sofrem de colapsos nervosos nem de úlceras no estômago – e jamais enlouquecem".

Daí, deviamos sempre bradar:

Oh, to confront night, storms, hunger,
Ridicule, accident, rebuffs as the trees and animals do.


Não digo que devemos nos curvar a todas as adversidades. De forma alguma. Enquanto houver qualquer possibilidade de salvarmos determinada situação, devemos lutar! Mas quando o bom senso nos disser que estamos desprendendo muita energia para algo que é como é – e não pode ser de outro modo – então, em nome da sanidade mental, não devemos esperar, procurar ou lamentar por uma realidade que não existe.

domingo, 15 de junho de 2008

Ser apaixonante

Ao assistir o show da Bailey Rae com minha calça índigo blue e sombra cristal, lembrei-me daquela sincronia e energia que existia quando ficávamos a sós e do meu jeito sem graça por não conseguir decifrar sua expressão.

Lembrei-me que achava que era mais forte e que você perceberia...