sexta-feira, 8 de junho de 2007


O meu corpo mergulhado.
Na imensidão do meu ser.
Um mergulho profundo e sereno.
Perigoso também.
Toda a minha consciência concentrada.
Para um único ponto.
Os batimentos cardíacos quase imperceptíveis.
A respiração silenciosa.

Um feixe de luz na ponta do dedo do meu pé.
Vai desenrolando.
Desenhando as minhas curvas.
Tocando a minha pele.
Como o deslizar de uma lágrima.
Uma luz esverdeada.
Ganha força e embalo.
Que vai subindo.
Acariciando os meus ombros.
Desabrochando os nós da garganta.
Soprando em meu ouvido.
Arrancando-me um sorriso.
E finalmente, pousando em meus olhos.

Despertei do sono.

O meu corpo está leve.
Solto.
Caído em meus braços.
Sim.
Sou eu que me abraço.
Que me carrego.
Que atravesso as esquinas do deserto.
Sou eu quem beijo a minha testa.
Enxugo o meu suor.
Dou-me de beber.
Curo as minhas feridas.
Eu.
Eu mesma.
São as minhas pernas que enfraquecem.
E me fazem cair.
Sou os meus pulsos enterrados no solo.
A poeira nos olhos.
Sou eu que engatinho.
Que me ensino a andar de novo.
Sou o meu próprio cajado.
O tecido que me veste.
Que reconstitui e me renova.
Sou o vacilo.
O que dói.
O que sente frio.
Mas a que continua a caminhar.
Com o cabelo contra o vento.
Sendo cada fio de cabelo.
Cada vestígio registrado.

Sou a alma viva.
Pulsante.
Sedenta.
Fugaz.
Galopante.
Sou aquela que corre.
Ultrapasso-me.
Viro-me.
Olho para mim à distância.
Observo-me.
Percebo-me.
E me espero paciente.
Até que me dou as mãos.
Elas entrelaçam-se.
Nos unimos.
Somos uma.
Mas há quem vê.
E diga que somos duas.