quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

O balde

Pela manhã, pediram-me para buscar um balde de alumínio no andar de baixo. Desci correndo as escadas, porque tinha outros afazeres, e logo tratei de procurar o objeto na bagunçada garagem. Ao chegar, noto que o balde está sobreposto a outro, além de haver material pesado dentro deles. Fiz uma força danada para retirar e descuidada deixei-os cair sobre meu pé. DOEU e, na hora, larguei tudo e disse: "Não vou tirar nada" e subi.

Será que sempre desisto na primeira dificuldade? Sempre desisto no primeiro empurrão, no primeiro machucado? E este machucado do que valeu, se não tentei até conseguir retirar o balde? Do que vale as marcas, as cicatrizes? Quantas delas me faz lembrar de vitórias e quantas delas me faz lembrar de derrotas e quantas derrotas foram sem lutas?

Mais incrível é um simplíssimo balde fazer-me pensar nisso tudo e em cada fato ocorrido na minha vida.

Ah, já sei! Foi uma retrospectiva estendida, não se limitou apenas ao ano de 2005. Assim, aproveito para:

DESEJAR A TODOS felicidade em cada dia do ano novo e lembrem-se dos baldes da vida!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Sentimentos fragmentados

Por que sinto meu coração fechar e ficar pesado ao ponto de não conseguir frear as lágrimas?

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Não sei o porquê de viver tão intensamente, eu me recordo de tantas coisas maravilhosas que vi, de cada doce palavra dita a mim e também de desprezos notados, de sonhos acabados e de inseguranças jamais perdidas.

Sinto-me tão próxima da felicidade, entretanto, vejo um caminho tão escabroso. Na verdade, tudo é tão!

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Talvez, tenha por mania complicar tudo e todos.

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Sofre dentro de mim todas as coisas contrárias!

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Só sei que esta noite eu choro e não choro como uma criança aos berros.

Choro sempre baixinho, causando até dor na garganta, calada, com dor no coração mesmo... por chorar só e ter que sempre achar a saída sozinha. Aquela dor que dói por não ser ouvida, pois quem acalentaria?

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Nem sempre é suficiente ouvir o próprio coração. Às vezes, faz-se necessário ouvir um coração amigo que se preocupa, que enxuga suas lágrimas e diz: "É difícil, mas vai passar!". Mas também não quero aquele amigo me pedindo prá não chorar, porque hoje a dor não é passageira...

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Quanta BABOSEIRA SENTIMENTAL.

É, este é o problema: ser sentimental demais. Sendo assim, viverei eternamente incompreendida. Pior ainda, por mim mesma.

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Chego acreditar que só sei compartilhar o que é belo e feliz. O que é feio e choroso, escrevo. O que é triste e duvidoso guardo para mim. Só não sei até que ponto isso será algo notável.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Cotidiano ferrado

Às dez e trinta da manhã, haviam dez mulheres reunidas: uma delas era odiada por todas, que se chamava Fergrana. Esta iniciou a discussão dirigindo-se a uma empresária:
"Você providenciou àquela encomenda? Lembre-se que o tamanho da pessoa é difícil de achar no mercado".
"Não estamos preocupadas com isso, há outras coisas mais importantes para fazermos" - uma voz estremecida retrucou.
Fergrana não perdia tempo em alfinetar algumas delas. Dizia que a filha da comerciante era amante do namorado da filha da professora. Exibia suas jóias, discordava de tudo e de todos. Comentava que o marido da administradora era um alcoólatra. Era grosseira, desatenta e até certo ponto ignorante. Porém, conseguia dizer e fazer tudo de forma sutil.
Certo dia, Marimonga saiu chorando da sala de reunião, ela não agüenta mais o clima pesado naquele lugar. Outras a seguiram e foram saber o que havia ocorrido.
"Ah! Deve ser mais uma das frescuras depressivas dela. Se eu fosse vocês não perdia o tempo com isso" - resmungou nossa vilã. Que fechou um contrato sem a opinião das ausentes.
Um outro dia, no banheiro, estavam as nove reunidas. Exaltadas e saturadas. Ali mesmo foi um bláblá, um bafafá horrível. Concórdia falava mais alto que Patriência, Marimonga se engasgava ao chorar, do outro lado Ingrid balançava a cabeça inconformada. Saíram todas dispostas a expulsar a grã fina da comissão. Chegando no devido recinto, foram supreendidas:
"Sentem-se, por favor. Tenho a honra em lhes dizer que mesmo que nossa meta não seja alcançada, eu irei patrocinar o nosso evento" - o queixo de cada uma caiu harmoniosamente e os dias delas se tornaram por demais longo.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Vida despercebida

UM SOPRO.
Meus ouvidos se atentam e meus olhos permanecem concentrados na leitura. Novamente um barulho, desta vez é o relógio que me avisa que já são meia noite e quarenta e nove. Mas até agora o sono não veio.
"Hoje o sol apareceu, as pessoas sorriram. Era primavera e eu podia sentir o perfume das flores, o canto alegre dos pássaros, mesmo na cidade grande. E tudo isso me contagiou, me fez sentir mais viva, mais feliz, como a muito tempo não me sentia" - meu último pensamento.
O TELEFONE toca.
Que susto!Aproximo-me e vejo na bina que é uma amiga querida. Resolvo não atender porque já passava das duas da manhã. Era o meu terceiro bocejo, ora de sono, ora de cansaço. Também era o terceiro toque, esperei o quarto e ao estender a mão para atender... a campainha pára. Talvez, não fose tão importante.
Perdi a conta do número de vezes que abri a boca. Decidi não lutar contra: fui deitar. Percebi que era noite de lua cheia e de céu estrelado. Muito estranho isso e ao mesmo tempo encantador. Que noite misteriosa, calada. Só conseguia ouvir a minha respiração. E isso me fez sentir só. Logo, os meu olhos se fecharam.
UM SONHO surreal: vejo flores, muitas flores.
"São para você, meu bem" - ouço uma voz.
"Para mim? Nem é meu aniversário".
"Claro que não e sei disso. E também sei que as adora, não é mesmo?"
"Sim, elas são lindas! Obrigada."
Daí observei que o conhecia de algum lugar. Bonito, charmoso, olhos azuis, loiro e com um sorriso safado. Nossa! Não posso acreditar, é ele, é ele... o Braaaad PITT. Neste exato momento ele estende a mão para mim e penso:
"Cadê a minha câmera digital uma hora dessas?"
"Vamos?" - ele me convida.
Eu o segui sem pensar duas vezes. Ele me levou até um lago e nunca antes eu tinha visto o meu rosto refletido em águas cristalinas. Podia sentir com os pés descalços as pedras pontiagudas pelo caminho. Olho para o céu e um orvalho cai em meu rosto. Depois cinco, dez, seiscentos... uma chuva. Saímos correndo em disparada para uma cabana ali próxima.
De repente um clarão, muitas vozes. Fiquei toda arrepiada e aquela luz me deixou cega por instantes. Estava sozinha outra vez. Ao meu redor flores murchas e lá fora muito barulho. Era uma multidão reunida, algumas até choravam. Tentei sair daquele lugar, porque até o perfume das rosas me incomodava. Mas algo me impedia, estava completamente imobilizada. Um vulto passou. Ufa! Era o Brad. As vozes, os passos estavam cada vez mais perto, mais alto e eu não conseguia fazer nada.
"O que está acontecendo? Alguém me tira daqui, por favor" - gritei desesperadamente.
Fui atendida e minha amiga apareceu. Ela me deu um beijo e uma lágrima escorreu...
"Por que você não atendeu ao telefone ontem?" - parecia brava comigo.
Tentei explicar que ia atender, mas, mas minha língua tra-travou.
"Vou sentir sua falta. Descanse em paz".
Hein? E lá se foi sem me dar nenhuma explicação.
Do nada ouço passos de novo. Sem mais nem menos uma oração. Um coro, na real. E eu só conhecia uma voz triste, a do Padre Beethoven. E também a da minha mãe e a do meu irmão.
(...)
O silêncio foi interrompido:
"Amiga, por que você foi morrer assim? Não, não me tirem daqui. Eu quero ficar com ela, até o último instante. Nãaaaaaaaaaaaao..."

O SOPRO foi a minha última respiração.
O TELEFONE tocou e não foi atendido, por que será?.
O SONHO real: minha morte despercebida.

domingo, 4 de dezembro de 2005

De frente para o espelho

BEM-VINDO ao meu novo blog, porque o antigo servidor (Weblogger!) saiu completamente fora do ar, faltando com respeito para com todos os usuários.
O primeiro post é sempre difícil de escolher. Mas decidi reescrever: "De frente para o espelho". Simplesmente, porque uma pessoa muito especial (muito truão também!) a-do-rou este texto. Só irá se decepcionar um pouco pelo fato de não tê-lo lapidado melhor nem explorado mais o mistério.

DE FRENTE PARA O ESPELHO

Hoje, esbarrei com o diabo no corredor. A princípio queria gargalhar quando o vi. Ele usava gravata borboletinha e suas mãos estavam escondidas no bolso da calça longa. Sentamos no banco e aguardamos minutos a fio. Toda a espera se tornou um tédio e ao mesmo tempo muito esquisito. O sorriso contido nos lábios dele crescia gradativamente e cada vez mais, eu ficava curiosa. Parecendo que lera minha mente, perguntou:
- Você acredita na FELICIDADE?
Putz! Se eu não estou acostumada a ver alguém de gravatinha borboleta, piorou quando eu ouvi esta pergunta, mas, tudo bem, sou educada e gaguejando respondi:
- A felicidade costuma ser o intervalo entre uma tragédia e outra - as minhas últimas palavras ecoaram pelas salas e tudo era vazio e silencioso.
- No AMOR.
- Como? - indaguei.
- No amor você acredita?
- Deve-se ter cautela para não deixá-lo consumir por inteiro. Às vezes, amamos tanto uma pessoa que não conseguimos perceber que ela não nos ama.
- Hum. - se contentou o estranho no ninho. E nas PESSOAS?
- As pessoas são capazes de enganar a si e é uma variante extremamente constante. Acredito que as pessoas são fiéis ao que lhes interessa individualmente. E o que ultrapassar a esta margem a "Deus dará"... - logo me interrompeu:
- Então, em DEUS você acredita.
- Não - embaracei-me.
- Pelo menos uma resposta direta e objetiva. Mas não O vê e vê a mim. Em que acredita, afinal?
- Em quase nada. Pelo visto você é um dos meus personagens férteis ou deve fazer parte de algum de meus contos. Não importa se há felicidade, amor, pessoas reais ou divinas. Importa, sim, o exato momento. Assim, o que penso é menos significante do que o que vejo.