terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A Sós em Ilha Comprida

(música: hoje eu quero sair )

O mar abre seus imensos olhos verdes e derrama sua força através de ventos úmidos. Eu movimento o corpo em ritmo assanhado junto com a espuma brilhante, sem receios e sem timidez. A pele eriçada, pela visão distante do verde-vivo dos montes, realça o novo bronzeado. As dunas imperfeitas e contrastantes inclinam sombras acanhadas aos caranguejos. As lentes dos meus óculos escuros registram o que vejo além do que é simplesmente visto. Meus pés rodam amimados pela areia rosa-mel e fazem-me abrir os braços para o céu-de-ai-meu-deus. Nado nua nas penetrantes águas que saciam minha sede de estar . Contemplo as asas alongadas dos pássaros p&b. Converso comigo mesma e acalmo o meu ser que sente por si . Ando até fazer a curva final da extensa ilha de 74 quilômetros. Passam duas bicicletas que jorram festa de água para todas as direções, conferindo ainda mais movimento ao momento. Eu respiro e transpiro prazer. Esboço sorrisos lentos ao sentir na sola as conchinhas crocantes. Umedeço os lábios de maré cheia e cansada refaço todo o trajeto ao contrário. Quase ao fim, reencontro os meus amigos. Eles me convidam a trilhar o mesmo caminho e aceito levemente embriagada de alegria. No fim da tarde, assistimos o sol jogar seus raios no céu.

Vale também lembrar das bananinhas naturais sem açúcar da nossa vizinha xamânica cheia de tatuagens. Do susto que levei com o pescador que pegou uma madeira na areia, se aproximou para perguntar se eu tinha visto alguém passar com uma faca e me pediu um beijo. Das minhas peripécias no volante. Da linda estrada de Cananéia...



quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A Feira

(continuação)

Nos braços, as sacolas de plástico engancham nos parafusos enferrujados das juntas. Corro com os calcanhares quebrados ao ouvir vozes exorcizadas vender pedaços frescos de gente a baixo custo. Esbarro esquizofrenicamente com um homem, sentado na esquina da vida, de mãos coloridas de sangue que mete entranha em entranha; que engorda o próprio corpo com outro corpo. Ele vilmente roda na ciranda dos sentimentos alheios com uma loira exuberante de ventre aberto. No girar, no balançar, ela pari sua criança que rasga os pulmões atravessados de fumo. Enquanto isso... estou a lançar pela boca todo o conteúdo gástrico de uma vaidade ferida: estar morto é sonhar sempre; é não ter filhos nem fome no ventre, é nunca mais se querer suicidar!



sábado, 6 de dezembro de 2008

Surpresa

Dannutti andava pela rua com um prazer estranho. Sentou-se na escadaria. Discou para um número e deitou-se numa cama misteriosa com um desconhecido - o seu noivo nunca desconfiou. Três anos se passaram e ela descobriu que fora traída. Não pôde perdoá-lo. Não pela traição. Mas por ele não ser capaz de guardar um segredo.



sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Invisíveis

Expiro e ainda existo. Sim, existo! — pensei. Por que teme o dia que ficará sem mim? Por acaso não sabe que nos encontraremos em qualquer espaço, esquina, café, fazenda, plano, aéreo..., desde que não se limite às coisas visíveis?








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Livros lidos em novembro:
A metaformose
Matias na cidade
O ensaio sobre a cegueira
O milagre dos pássaros

Filme para recordar:
Madame satã

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Caetaneando-me

Lanço-me para fora da janela dos meus olhos, como um objeto transcendente.

Lagrimo-me em risadas para fora da minha espalhafatosa timidez.



domingo, 16 de novembro de 2008

Universo Tamaresco

Palavras de ordem: utilidade e ordem.

Se algo não puder ser usado, descarto com uma crueza que poderá aterrorizar os mais sentimentais. Já joguei fora romances, porque não eram úteis.

Conheço minha força e minhas fraquezas e não gosto de exagerar nem na arrogância nem na falsa modéstia. Uso o que me vem à mão para criar ordem ao meu mundo. Ordem do ambiente material, do reino das idéias, ou do corpo e da mente.

Discriminação é uma de minhas características. Sutileza de pensamento e ação também. Percepções em preto e branco induzem a um universo simples e, para mim, o universo é raramente simples.

Meu trabalho é a primeira coisa que revelo às pessoas, e não meu mundo secreto. Nem todos os meus bens ficam à mostra na vitrine.

Com toda a auto-suficiência, o reino emocional é naturalmente a mais complicada do quebra-cabeça. Emoções não são organizadas e fazem-me sentir vulnerável. Lá dentro, bem no fundo, há um estoque enorme de sensibilidade, romantismo e visão imaginária. Só os escolhidos conhecem.

É verdade que ninguém nunca me verá oferecendo minhas últimas moedas a um mendigo na rua. Mas já me viram oferecendo um discurso sobre "auto-ajuda", com minha atenção muito aguda para com as ruínas humanas.

Planejar para o futuro quase se tornou uma obsessão, pois o meu realismo faz com que seja difícil confiar na vida. No entanto, quando me sinto segura, sei ser a mais gentil, a mais suave e a mais generosa de todas as almas, doando meu tempo e minha capacidade abertamente.

Sou uma criatura complexa, com muitas máscaras e disfarces. Mas aprendi a lição muito cedo, mesmo que seja só a realidade.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

.Morte

O Grande Livro Branco de Hanna23


Eu era muito nova. Ainda me lembro da estranheza. Contaram-me “sobre” a morte. Disseram-me que um dia todos morrerão. Que ela vem sem nos avisar. Que se morre até enquanto está dormindo. Ficava a imaginar, no meio daquela conversaiada toda, a cor da morte. P&B? Como será que ela chega? Será que ela espera a gente deitar na cama para puxar o nosso pé e assim morremos de susto? Ou será que ela nos congela com seu beijo, já que soube que os mortos são gelados? Sempre que despertava, pela manhã, tratava de levantar sem vacilar com medo de a morte aparecer. Não entendia e ficava aflita com meus pais, ali, dormindo, esperando pela morte. Temia não conhecer a minha irmã (sempre soube que seria uma menina!) porque a morte poderia invadir-me de repente. Não gostava nem das sombras. Acreditava que elas eram parentas. Por isso persegue a gente, por todos os lugares.

Hoje, eu ouvi que a morte é longa, longa, longa, looonga...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Até que sumiu!
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- É... e daí?

Num tom de descaso
Num tom de falta de atenção
Num tom desrespeitoso


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Colares

E pendurou no pescoço a excrescência acerada de uma experiência mal sucedida para lesar a pele sensível ao andar... como recordação, é óbvio!

Quantos colares possui?



quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Algum Sentido

(um dedo de Pessoa)


Da janela só um girassol.

No não lá-fora chove.

O vento varre a idéia do perfume da saia de flores murchas estampadas.

Sente-se o ar sorrir: é alguém que vai entrar pela porta.

A transparência das cores das flores acende o som da chuva que o alaga por dentro.

O espaço pára, escorrega, desembrulha-se.

Bailam lá fora redemoinhos de sol, cavalos de carrossel, árvores, pedras, montes, noite absoluta de luar no dia de sol lá fora.

De repente, sacode esta hora dupla como uma peneira misturando o pó das duas realidades.





centopéia pipoca murcha
macacos bate-bate avenidas pretinho original

domingo, 12 de outubro de 2008

Nuvens mudas.
Tagarelam sobre o pássaro cinza.
Pousado no dourado tronco oculto de folhas.
Que se insinua para a agasalhada casa.
De seres genuínos.
Vislumbrantes de nuvens mudas.


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Resposta I:
Estou de pazes com o prazer e, conseqüentemente, comigo mesma
(quanto mais me pareço comigo mesma, mais as coisas mudam!).
Neste estado não se valoriza as qualidades ou os defeitos,
tampouco se preocupa,
porque eles são criações irreais
para justificar o fracasso ou o sucesso humano.

Resposta II:
Não consumo bebida alcóolica porque aprecio a alegria sincera.
Isto inclui não degustar as trufas com rum da mamãe,
tomar champanhe no Natal ou "molhar o bico" no vinhozinho.
Em compensação a-do-ro sucos exóticos, tais como:
abacaxi com cardamomo, goiaba com gengibre e manga com maracujá.

Resposta III:
Não universalizo.
Gosto do dualismo.

domingo, 28 de setembro de 2008

Nos últimos tempos, tenho apercebido (por observâncias) uma sutil doença na humanidade, a normose. Soube deste nome depois de realizar algumas pesquisas e esta palavra não foi forjada por mim, mas, sim, por Jean Yves Leloup.

Normose é a patologia da normalidade. Quer ver como a conhece?

Mulheres estranham a sua beleza original com olhares famintos incrédulos? Homens desejam a sua beleza singular com olhares espantados admirados?

Há olhares repressores duvidosos; há olhares repletos de superficialidade?

Conhece alguém que não possuí a coragem de virar a mesa contra o clichê social e assumir a responsabilidade pela sua maneira de pensar e pelo controle de sua vida?

Estes são os mentais e emocionalmentes doentes. Segundo o Livro de Bronze dos Neuróticos Anônimos, 95% da população fazem parte desta grande massa. Por isto, antes tinha a sensação de isolamento. Afinal, faço parte dos 5% restantes (risos).

Então, amigos atentem-se à sua saúde e a dos seus queridos. Abaixo, compartilho um trecho do livro NORMOSE, A PATOLOGIA DA NORMALIDADE, do Yves:

"A normose nos impede de sermos quem realmente somos. O consenso e a conformidade impedem o encaminhamento do desejo no nosso interior.

"Tornar-se uma pessoa é um caminho. Por intermédio de cada um, o desejo continua sua rota. Trata-se de ir ao encontro da identidade transpessoal. Não basta ser apenas eu, um ego. No interior de cada um de nós podemos sentir o chamado do Self. Através das experiências do numinoso, descobrimos que existe algo maior do que nós. Mas temos medo de enlouquecer, de perder o ego, de perder o que foi construído no ambiente das relações parentais, familiares e sociais. O que temos a perder são as ilusões: as imagens de Deus, as imagens de nós mesmos, as imagens que construímos do que seria um homem ou uma mulher bem-adaptada. A realidade, em si, é impossível de ser perdida.


Quando você se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual
Eu do meu lado aprendendo a ser louco
Um maluco total
Na loucura real
Controlando a minha maluquez
Misturada com a minha lucidez
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Este caminho que eu me escolhi
É tão fácil seguir
Por não ter aonde ir

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Coisas e coisas

Coisas visíveis.
Coisas invisíveis.

Visíveis coisas.
Invisíveis coisas.

Coisas visíveis.
Coisas invisíveis.

Eu aprecio os detalhes do mundo invisível.
Eu sou um fragmento do mundo invisível.

Eu sou um mundo invisível!
Eu sou invisível!

Coisas visíveis.
Coisas invisíveis.

Visíveis coisas.
Invisíveis coisas.

Coisas visíveis.
Coisas invisíveis.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Escrevendo emocionada...

... brinco que eu já existia antes de nascer. Que sou uma velha ladra num corpo de uma jovem.

Há muito tempo conheço a intuição. Ela foi a minha única guia ao ponto de me sustentar sem amigos, mas isto é história para outro post.

Hoje, estou posicionada em um espaço em que, do meu lado esquerdo, eu já tinha conhecimento de tudo o que me aconteceu até este exato momento e, do lado direito, eu tenho a nítida visão do que vai acontecer. Para facilitar um pouquinho , é como se eu estivesse entre a minha consciência do passado e a do futuro. É como se eu fosse o vento entre as arestas da janela: você não o vê, mas sente que ele existe.

É uma sensação indescritível. Tentar traduzi-la seria dizer que embora houvesse pedras no meu caminho, acima de tudo eu acreditei em mim (e continuo acreditando!). Os mais íntimos sabem o tamanho dessas pedras.

Ontem, eu disse SIM para algo que me abriu a porta para hoje. Hoje, eu disse SIM para algo que abrirá mais uma porta amanhã.

É assustador e sem graça saber o que lhe vai acontecer na vida? Garanto que não. É, abundantemente, regozijador saber que fez melhor do que "prevera".

Esclareço que isto nada tem correlação com os chamados "previsão do futuro", tarô e companhia. É apenas uma observância (digo, ampla!) crítica do seu próprio ser. É decifrar todos os dias os próprios enigmas. É desamarrar os nós. É ser claro no pensar, no sentir e no querer.

Eu estou tão eufórica que nem a mais profunda respiração me acalma. Ao contrário, faz com que meus olhos umedeçam. É um êxtase sublime!

Enfim, é apenas um registro de que consegui estágio, numa nomeada editora, em pleno 2º semestre da faculdade e não estou apenas contente por isto, e sim, consciente de toda a minha jornada.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Baile surreal



Luzes serpenteando.
Sóis prateados.
Nuvens violeta.

Música que não se ouve.
Mas contagia.
Os pés.

Corpos nus.
Dançam.
Com suas máscaras.

Belezas veladas.
Mistérios encantadores.
Noite vazia.

Estou perdida.
No salão.
A olhar.

De olhos abertos.
As máscaras.
De todas formas e feitios.

No meio de todos.
Procuro a minha.
Levo as mãos ao rosto.

Dirijo-me.
A um espelho.
Escondido.

Ele mostra.
A minha face.
Nua.

Ninguém percebe.
O milagre.
Que ocorreu.

Quando alguém.
Perdeu.
A sua máscara.

Dias paulistanos

A urbanidade acinzentada cospe flores amarelas no alto da copa em frente ao arranha-céu.

sábado, 30 de agosto de 2008

Diário de bordo

O dia presente:

Da alavanca à catapulta.
Muito bem articulado!

O dia passado:

O círculo de luz que coloriu, momentaneamente, o meu sorriso amarelo.
O Halo Solar foi quem me fez a(es)quecer a falta de respeito de outrém para comigo.

O dia futuro:

A sabedoria natural do meu corpo lê o arrepio sutil nos olhos dele.
Aquele seu abraço monu-mentalMENTE que reservas para mim.

Como um dia é diferente...


terça-feira, 26 de agosto de 2008

domingo, 24 de agosto de 2008

Ela

Por Elvis Costello

Ela pode ser o rosto que eu não consigo esquecer
O caminho para o prazer ou para o desgosto
Pode ser meu tesouro ou o preço que eu tenho que pagar
Ela pode ser a música de verão
Pode ser o frio que o outono traz
Pode ser cem coisas diferentes
Em um dia

Ela pode ser a bela ou a fera
Pode ser a fome ou a abundância
Pode transformar cada dia em um paraíso ou em um inferno

Ela pode ser o espelho de todos os meus sonhos
Um sorriso refletido em um rio
Ela pode não ser o que ela parece
Dentro dela mesma

Ela, que sempre parece tão feliz no meio da multidão.
De quem os olhos parecem tão secretos e tão orgulhosos
Ninguém pode vê-los quando eles choram

Ela pode ser o amor, que não espera que dure.
Pode vir a mim das sombras do passado.
Que eu irei me lembrar até o dia de minha morte

Ela pode ser a razão pela qual eu vivo
O porquê e pelo que eu estou vivendo
A pessoa que cuidarei nos tempos e nas horas mais difícieis

Eu irei levar as risadas e as lágrimas dela
E farei delas todas as minhas lembranças
Para onde ela for, eu tenho que estar lá
O sentido da minha vida é ela
Ela... oh, ela

sábado, 23 de agosto de 2008

Testarudo

Se você só ouve o que espera ouvir, não é preciso dizer que é surdo.



















Quero narrar uma história desinteressante e constante:

Despertava cansada às 7h15.
Pressionava parar.
Selecionava o alarme.
Despertava cansada às 7h30.
Pressionava parar.
Selecionava o alarme.
Despertava cansada às 7h45.
Pressionava parar.

— Aaai, estou atrasada para o trabalho!



[Alguém tem anti-cansaço sobrando?
Está em falta na drogaria.]

sábado, 9 de agosto de 2008

Bendigo filho meu!

As pernas em sukhásana sustentam o corpo firme e alongado. As mãos em Shiva mudrá envolvem a barriga de 7 meses. Os seios fartos e robustos emolduram-lhe quais jóias raras. Os lábios pintam um sutil e enigmático sorriso avermelhado. Os cabelos soltos ao vento dos ombros. O arrepio dos pêlos conferindo-lhe mais quietude. Os sentidos conscientes escutam as vivazes pulsações cardíacas – é o ser que desabrocha e movimenta dentro do seu ser. O ouvido esquerdo condescende ao seu próprio coração. O direito une-se ao pequenino coração fecundo – uma perfeita dissonante suavidade. Seus olhos interiorizados acompanham o subir e descer do abdómen. O ar expelido por ele hipnotiza sua pele ouriçada. Os dedos intensos tocam ternura pelo corpo formado eqüidistante. Ela o beija tacitamente e o espera nascer mergulhada na paciência do instante.


Ouça junto: Suíte nº 1

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Sem emoção

Noiva sem sorriso (?)
Noivo roubando a cena (?)



Vou abrir
loja de Emoção
pra vender
pra essa gente

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Valete Maluco

As minhas amigas apenas se interessavam pelas cartas. Eu não agüentava mais aquele jogo sem-fim, Valete Maluco. Montei na bike e pedalei pelo bairro. Não resisti e, no fim da tarde, fui a praia mesmo cinza. Chegando lá, encontrei uma rodinha de meninos, de 7 ou 8 anos, jogando bola. Sentei-me ao lado de um que estava fora da roda. Em pouco tempo, chamaram-me para jogar e topei, dizendo: “Jogo mal. Muito mal”. Tiramos o time e até fiz gol. Levei uns rolés e outros olés. Mas estava contente com a minha performance. Avistei o menininho fora da roda, um tanto tristonho, e voltei a sentar. “Diz aí, está com medo?”. Ele ficou azul de vergonha. E eis que surge uma voz falante daquele corpo: "Tenho medo das pessoas. Elas gritam. Se irritam. Estão sempre sérias e ocupadas”. Eu apenas sorri, como a dizer que também lamentava. Ele, por sua vez, continuou: “Você não é uma pessoa, né?! Você também ri”. Novamente, eu sorri. Levantei-o, chacoalhei o corpo e fomos futebolar.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

terça-feira, 29 de julho de 2008

Ouço Caetano e penso nisso

"A feia fumaça que sobe apagando as estrelas"

... a fumaça que sai das chaminés ambulantes, mais conhecidas por fumantes.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Declaração do porvir

Dizer-te que as fagulhas vividas acenderão e transcenderão o nosso intuito ao nos enamorar. Preservaremos a unidade como bem já o fazemos.



quarta-feira, 23 de julho de 2008

Cíclico Putrefado

Homens e mulheres, freneticamente, se embalam em uma dança sexual, tal e qual a bois em direção ao matadouro.

Homens e mulheres fartos de vazios penetram o mundo, concebendo mais insensibilidade.




Não generalizo
Crio reflexão

terça-feira, 22 de julho de 2008

No próprio lar

Você sobreviveria se ficasse, durante um mês,
em uma casa grande com todos os entretenimentos físicos,
sem vizinhos, distante da cidade, curtindo a sua própria companhia?

sábado, 19 de julho de 2008

Descomplicando

Não exijo compromisso. Não o pressiono. Não faço cobrança. Não sinto ciúme. Não levo suas promessas a sério. Apenas desejo o seu desejo.





Não sou complicada
nem perfeitinha

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Trocada por uma galinha

Caí em território inimigo por conta do meu espírito desbravador e pela empolgação ouvindo chillout. Mãos fortes agarraram no meu cabelo e me arrastaram por pouquíssimo tempo. Quando me jogaram no canto, sentia dores nas duas nádegas. Olhos curiosos se aproximaram de mim. Eram mulheres com cabelos sebosos grossos e tetas caídas. De repente, ouvi uma voz familiar. Rapidamente, colocaram-me de cabeça para baixo. Havia muita gritaria e dedos apontados para mim. Parecia uma negociação. Já no carro, meu amigo explicava e se desculpava, pois era a segunda vez que os índios, da região da fazenda, capturavam pessoas em troca de galinha caipira.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Hálito noturno

Corpo no céu aberto. Tingido pelo hálito da noite.
Cabelo solto ao vento. Brilhante pela felicidade do momento singelo.

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No ar que eu respiro,
Eu sinto prazer
De ser quem eu sou
De estar onde estou
(Rita Lee)

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Ave em chandra jñána mudrá
por Fernando Quintino

Gosto
quando
medito
e
não
mais
penso
em
você.

sábado, 28 de junho de 2008

Curtinha

Peruca chanel pendurada na janela azul royal. Tapete de pele de urso manchado de vermelho-beterraba. Vestido encardido, mas muito bem engomado, pendurado no cabide. Lençol de cetim esmeralda desalinhado na cama. Vaso imitação da West Elm quebrado. Retratos miúdos de pessoas mortas. Telefone colonial decalcado fora do gancho. Luminária de teto em fio de alumínio rosa-lábios. Esmalte ressecado e papel de bala amassado. Relógio apontando uma hora da manhã. Pulsos finos, dedos magros tocam o play do mini system. Solto baile solitário sobre o piano de Brad Mehldau.

Era uma desordem.
Era o seu mundo em progresso.

domingo, 22 de junho de 2008

Matrix

A loucura perdeu-se de mim quando aceitei o inevitável. Antes era banhada por insônias infernais e revoltas. Fazia recair sobre mim uma porção de coisas que não desejava. Naquela escuridão que me encontrava não era capaz de compreender o conselho do filósofo William James: "Aceite de boa vontade que assim seja. A aceitação do que aconteceu é o primeiro passo para se dominarem as conseqüências de qualquer infortúnio".

Quando aceitei o inevitável, caminhei para frente. Não me importei mais com o que havia acontecido. Passei meses escondendo o sofrimento íntimo, sorrindo e seguindo o meu caminho.

Deixei de lamentar um passado que se foi para sempre. Agora, vivo com alegria. Fiz as pazes com a vida. Vivo, agora, uma existência mais cheia e completa. Ainda penderei na parede do meu quarto as palavras de Jorge V, rei da Inglaterra: "Ensina-me a não chorar pela lua nem diante de leite derramado". Um lembrete para que possa me transformar nos momentos difíceis.

As circunstâncias, por si sós, não nos tornam felizes nem infelizes. Não podemos nos deixar levar pelas flutuações da existência. Não podemos deixar o humor flutuar e ficar à mercê dos acontecimentos. Faz-se necessário mantermo-nos firmes em nosso centro. Porque é a maneira que reagimos ante as circunstâncias que determina os nossos sentimentos.

Todos nós podemos suportar os desastres e as tragédias. A verdade é que todos nós temos recursos interiores surpreendentemente poderosos, capazes de nos fazer superar os obstáculos. Somos mais fortes do que julgamos. Muito mais!

"Eu aceito o Universo". Por mais que lamentemos, que nos ponhamos a espernear, que nos torturemos, não mudaremos o inevitável; mas podemos mudar nós mesmos. Eu bem o sei. Já o experimentei.

Conheci uma história interessante:

"Passei doze anos trabalhando com gado – mas nunca vi uma vaca Jersey ficar com febre porque o pasto estivesse quase em fogo por falta de chuva, ou por causa de granizo ou de frio ou, ainda, porque o companheiro estivesse prestando demasiada atenção a outra bezerra. Os animais enfrentam a noite, as tempestades e a fome calmamente, de modo que jamais sofrem de colapsos nervosos nem de úlceras no estômago – e jamais enlouquecem".

Daí, deviamos sempre bradar:

Oh, to confront night, storms, hunger,
Ridicule, accident, rebuffs as the trees and animals do.


Não digo que devemos nos curvar a todas as adversidades. De forma alguma. Enquanto houver qualquer possibilidade de salvarmos determinada situação, devemos lutar! Mas quando o bom senso nos disser que estamos desprendendo muita energia para algo que é como é – e não pode ser de outro modo – então, em nome da sanidade mental, não devemos esperar, procurar ou lamentar por uma realidade que não existe.

domingo, 15 de junho de 2008

Ser apaixonante

Ao assistir o show da Bailey Rae com minha calça índigo blue e sombra cristal, lembrei-me daquela sincronia e energia que existia quando ficávamos a sós e do meu jeito sem graça por não conseguir decifrar sua expressão.

Lembrei-me que achava que era mais forte e que você perceberia...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Um pouco de tristeza...

... não faz mal (nem bem!) a ninguém.

Ainda me acostumando à idéia de chegar da faculdade, de madrugada, e não mais encontrar o único ser que fazia questão de ganhar cafuné na barriguinha, subir no meu colo e me dar beijinhos de fucinho gelado. Saudade do chorinho da doguinha pedindo atenção, das nossas "apostas" de corrida (ela ficava brava quando eu chegava primeiro!) e dos banhos de sol na sacada.

Ainda superando o susto e aliviada com a alta do meu pai, mesmo sabendo que ele sente bastante dor.

É essa tristeza passageira que me deixa assim tão borocoxô...

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Sou uma obra-prima da natureza_II

Sou uma obra-prima da natureza.

Meu corpo foi moldado por comportamentos e desejos.

Ele é fruto de surpreendentes ajustes e sutis refinamentos.



Sou a esposa de Pigmalião.

Minha pose é insuniante, dotada de majestade e de sensualidade.

Ela é uma perfeita sinergia, que confere-me beleza indescritível.



Sou uma estátua esculpida pela paixão.



Surge, então, o embate entre o ideal e o real.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Sou uma obra-prima da natureza_I

Ele se sentou atrás de mim.

Fechamos os olhos.

Aquietamos.

A respiração dele acompanha o meu ritmo.

Como a saudar a minha essência.

Os corpos estão imóveis.

Feito estátuas.

Até que surge uma urgência vibrante.

Profunda.

O corpo se move.

Sussuramos juntos uma canção.

Sinto sua suave respiração em meu pescoço.

Suas mãos deslizam bem leve, com movimentos de baixo para cima em meus ombros.

Tão logo, as mãos chegam em baixo deslizando prazerosamente.

Mãos que tocam mais forte.

Pele que sente as unhas.

Sente as mãos cheirosas e macias.

Mãos estas que deslizam de baixo para cima.

De cima para baixo.

Mãos que deslizam em todo o prolongamento da minha coluna.

Que finalizam na região do pescoço.

Que fazem movimentos com atenção nos braços e gostosamente na lateral do corpo.

Suavemente morde o meu pescoço.

Com dose de carinho beija delicadamente em volta das orelhas.

Como uma dança.

Como uma celebração criativa e amorosa.

Ele encosta suavemente o peito em minhas costas.

Não sinto peso algum.

Só sinto os pêlos em minhas costas.

Suas mãos movimentam-se na minha barriga.

Sinto seus dedos.

Suas palmas das mãos.

Uma das mãos segura na minha cintura.

Enquanto a outra continua na minha barriga.

Toda a minha cintura.

A região uterina e ovariana.

Sagradamente tocam os meus seios com movimentos suaves e circulares.

Suas pernas se estendem.

Ora as mãos tocam um seio de cada vez.

Ora tocam ambos.

Dão atenção especial aos mamilos.

São toques prazerosos.

Sutis.

Ficamos de frente.

Ele me venera.

Eu o venero.

E sento sobre suas pernas.

Um encaixe perfeito.

Com calma.

Beija o meu peito.

Os meus seios.

Todas as regiões recebem o delicioso toque do beijo.

O abraço nos une.

Integra-nos.

Um desaparece no outro.

Os limites se fundem.

Misturam-se.

Beijamo-nos.

Carinhosamente.

São permitidos.

Gemidos.

Gestos.

Enlouquecedores.

Movimentos.

Desinibidos.

Bonitos.

Selvagens.

Todo o corpo pula.

Vibra.

Entra em êxtase.

Pulsa.

Eu me sinto como homem.

Ele se sente como mulher.

Às vezes, fico por cima.

Às vezes, os papéis mudam.

Tudo se torna um grande drama de energia.

Tudo é perdido.

Abandonado.

Sentimos frescor.

Descanso.

Paz.

Profundos.

Os corpos se cansam.

Ficam exaustos.

Exauridos.

Como um choque elétrico.

E a mente paralisa.

domingo, 4 de maio de 2008

Um pouco de Portugal

Estou a sentir demasiada saudade dos amigos. Principalmente, dos amigos distantes que se encontram do outro lado do oceano, naquela casa branca, próximo ao farol cintilante. Por esta razão, "cito" um dos textos de Merry Alice, apenas para amenizar a saudade de um desses amigos:

DIÁLOGO

Ela exigiu: "Faz-me compreender o teu amor". O pedido foi tão firme que ele sentiu que não poderia responder: "Não é possível explicar, a não ser morrendo." Ela perguntou: "Serias capaz?". Decidiu, então, morrer. Ela pediu-lhe para esperar um pouco mais.

- Quantas mulheres amaste antes de mim?
- Quantas mulheres amei ou com quantas mulheres tive sexo?
- Não é a mesma coisa?
- Não.
- Por quê?
- Porque o amor não se exprime apenas pelo sexo. Porque o sexo não existe apenas no amor.
- O sexo sem amor é feio?
- Não. É sexo.
- E o amor sem sexo é incompleto?
- Não. É amor.
- Quantas mulheres?
- Em quantas podes acreditar?
- Dez.
- Tantas?
- Mentiroso. Quinze.
- Três.
- Foram muitas? Foram poucas?
- Havia mil dentro de cada uma delas. Sou um devasso, perdoa-me.
- Queres saber quantos homens amei antes de ti?
- Quero.
- Amanhã. Abraça-me.
- Amo-te.
- Normalmente os homens dizem "amo-te" no fim.
- No fim de quê?
- No fim do sexo.
- E quem disse a ti que eu quero o teu sexo?
- E não queres?
- Quero.
- Então porque mentes?
- Não minto.
- Não mentes ou não queres confessar que queres o meu sexo?
- Não te quero começar a perder.
- E quando é que isso acontece?
- Quando julgares que amar-te e querer o teu sexo é a mesma coisa.
- E não é?
- Não.
- Porquê?
- Porque te amei antes de saber que tinhas sexo.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Eclipse

Jacó se apaixonara por duas distintas e formosas mulheres: a primeira é mais delgada de corpo; enquanto, a segunda tem mais altura. Ambas têm um sorriso metálico sem ferrugem. Uma é "o dia"; a outra, "a noite". Certo dia, o vento brando tocou a pele de J, como a sussurrar: Se você quiser alguém para ser só sua, é só não se esquecer estarei sempre aqui... porque sabia que a noite logo cairia.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Maduro

Eram troncos de árvores. Não. Eram mulheres fortes, que carregavam no ventre a sensibilidade de uma vida, enfeitadas por copas tons de verde que bailavam ao vento. Não. Eram árvores que amadureceriam o fruto.

sábado, 19 de abril de 2008

Épocas de Orkut

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Para o semi-deus Elton.
Da deusa bifronte que lhe roubou a alma.

METADE DA MINHA ALMA É FEITA DE TAMARA.
E A OUTRA METADE É FEITA DE ELTON.

Minha alma sem vergonha,
andava desnuda pelas montanhas.
Perambulava de um jeito bem tamaresco.
Até que encontrei o mar e,
chamando atenção de néon,
encontrei o Ton.
Ele era um semideus.
Heroicamente conhecido por trazer alegria aos seus.
Tal foi a inveja que senti que roubei-lhe a alma.
E foi no mar que aprendi o gosto da forma bela.
E minha alma se transformou no reflexo da alma de Ton.

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Quando eu conheci a Joy, estava num bar de concreto sujo e vento forte violento. Ela gritava pelas ruas que não é escrava de ninguém. Dizia que tem valor e que os dias são desleais. Mas, quando a vi, enxerguei uma mulher de olhos amendoados e com o olhar esperançoso. Diziam até que ela era perseguida por uma porra-louca, com movimentos tamarescos. Só não sei se fazia parte da lenda. E desde aquele dia, eu passei a andar lado a lado com Joyce Dantas, admirando-a. Apoiando quando necessário, lutando por ela e contra os demônios dela, sempre torcendo para que sua vida se eternize até os confins e fazendo poucos questionamentos sobre Tamara Queiroz.

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Para o amigo enigmático.
De sua fiel amiga porra-louca.

Estávamos nós dois, eu e o Will, sentados no banco de uma praça quando surgiu um escalafobético casal gay. Eles riam espalhafatosamente, eram do tipo que chamavam a atenção. Não olhamos para eles e continuamos a nossa conversa. Não olhamos até o momento em que um deles resolveu acenar e perguntar se éramos também um casal. Rimos da cara dele, o cara era tão antiquado, tadinho. Dissemos à eles que abrimos uma conta bancária conjunta, onde depositamos dia-a-dia: confiança, admiração, carinho, preocupação, autenticidade, honestidade, alegria... e que nossa amizade sobrevive desta renda. Então, os dois riram escandalosamente e partiram nos chamando de loucos.

No ar

Ternura!

Infinita!

Jogos de luz e sombra!

Fragrâncias: cedro, canela, gerânio, capim cidreira, gengibre, tangerina, gergelim, ameixa, cravo, sândalo, maçã, coentro...!

Ângulo mais bonito!

Profundo!

Incêndio!

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Silent Mondo

Attendo con ansia l'unica zona a contenere solo a me. Tutti i stanchezza scompaiono dal mio corpo e la mia mente è libera. Infatti, vado avanti ...

(desconhecido)

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Primeiro semestre



Entre avenida e portões. Muros e pensamentos. Passos solitários e buzinas. Sinais azul-céu. Piar e fumaça. Olhares invejosos. Vento sujo. Troncos e orvalhos em folhas verdes. Ponteiros e bagagem. Abraço e concreto. Alarme de desordem e música para a pele.


Tudo absorvido.
Vários sentidos provocados no ato de pôr ao través da rua.

domingo, 13 de abril de 2008

sábado, 12 de abril de 2008

Noite solta

As minhas emoções fluem.

Eu dou a volta pela vida.

Liberto minha mente e o prazer vem suavemente.






De repente, dou-me conta que estou a ouvir Erykah Badu (soul).

domingo, 6 de abril de 2008

Tentativas

(para Nine)

Sem pedir licença...
... interiorizei-me na sua mente.
... agarrei com força o vazio doloroso que invadiu o seu peito.
... matizei a sua metade preto e branco.
... diminui a intensidade do nó da sua garganta.
... reavivei suas boas lembranças.
... abracei o seu coração, expulsando o tormento que nele habitava...

AMIGA, transcendemos.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Encontros e desencontros

.

Na tumultuada Marechal, uma senhora de cabelos grisalhos pousa a mão suavemente em meu ombro direito. Viro-me para trás e sorrio.

Ela tocou-me novamente e apontou o dedo em direção ao meu coração* dizendo:

- Essa marca desaparecerá a medida que sorrir. Os seus amigos admiram o seu sorriso, mas desconhecem o motivo.

Ela virou-se, olhou para trás e sorriu.

Eu fiquei imóvel, senti toda a dimensão do vasto ambiente que me encontrava, até que despertei com um esbarrão.

.


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Já era tarde, quando conversava com um amigo que disparou:

- Você precisa ser misteriosa. Isso a tornaria mais atraente.

Eu permiti que ele dissertasse sobre o seu ponto de vista, que durou a viagem, de ônibus, de 16 quilômetros. Talvez, porque me perdi em pensamentos:

- De um lado, uma pessoa inventivamente misteriosa e, do outro lado, uma pessoa criando teorias sobre a outra. Cada uma vivendo realidades e também mistérios diferentes, distanciando-se cada vez mais.

Eu opto por ser transparente e não atrair realidades desvirtuadas.

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*não se limite em acreditar que assuntos do coração só se referem a paixões e amores.

domingo, 30 de março de 2008

Sou

Aquela que foge para as maravilhas do país equidistante, chamado Tamara.

Aquela que precisa da quietude das delícias, seletivamente, alheias.





Quarta-feira,
ganhei um caqui de presente.
Sensacional
a beleza dos atos singelos!

domingo, 23 de março de 2008

O meu olhar

Enquanto criançava pelo mundo via os redemoinhos do ar.

Sentia demasiada vontade de atravessá-los só para vivenciar o outro universo que emergia frente a mim.

Hoje, os redomoinhos estão tão alcançáveis, quanto inalcançáveis.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Santa sexta

A casa cheira a peixe.
O bairro cheira a peixe.
A cidade cheira a peixe.
Embora, apenas o mar deveria.





Eu ainda insisto:
toda sexta-feira é santa.

domingo, 16 de março de 2008

Observando e sendo observada

Mechas louras,
calça cigarrete,
requebrando numa sandália rosa,
sento-me
- no banco -
com a coluna completamente ereta
e cruzo as pernas.

Uma mulher,
ao observar toda a cena,
corrigiu a postura
e do meu rosto
pintou
um sutil sorriso.

O dia-a-dia
conta-nos histórias.

domingo, 9 de março de 2008

O mar e a noite imensos
Falando de si própria
Sentindo mundo físico
Drama poético
Beleza secreta
Vibrar em uníssono
História íntima
de Sophia Andresen

"Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Penetrado por mim como num beijo.

Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens."

Meu presente que leio:
ANTOLOGIA - MAR

sábado, 8 de março de 2008

Pulsação Vital

É como se sentisse todo o serpentear do cair da folha. Mas isso é pouco, muito pouco.

É como se o mundo dependesse de mim para continuar respirando – e o recorto, a cada momento, com meus olhos e descubro paisagens lindas. Mas também é pouco, pouquíssimo.

É realmente não imaginar as posições dos pés para o próximo passo. E TUDO isso não fazer o menor sentido de ser explicado, mas SER sentido.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

P/ele


pele olho sentido
pele cheiro sentido
pele tato sentido
pele som sentido
pele gosto sentido

olho pele sentido
cheiro pele sentido
tato pele sentido
som pele sentido
gosto pele sentido

sentido olho pele
sentido cheiro pele
sentido tato pele
sentido som pele
sentido gosto pele

olho sentido pele
cheiro sentido pele
tato sentido pele
som sentido pele
gosto sentido pele

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Dormente

Um fumante, à minha frente, comentou com o amigo:
- Adoro mulheres cheirosas!
Logo, pensei que ele jamais se envolverá com alguma fumante.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Descobertas

De repente, descobri que não tenho mais paciência de explicar o desconhecido às pessoas que não se arriscam.

De repente, descobri que é melhor sorrir, ao invés de dizer: "Você não entendeu porque não está interessado!" - assim como o fiz com o meu chefe, sexta-feira passada.

De repente, descobri que vivo há apenas cinco anos.

De repente, descobri que de tanto acreditar desacreditei.

De repente, descobri que sinto enorme satisfação em reaprender o já aprendido.

De repente, descobri que sou adaptável demais.

De repente, descobri que poucas vezes entreguei meu coração em uma bandeja.

De repente, descobri que através do domínio da mente posso mudar o tempo e o espaço - e que isto me assusta.

De repente, descobri que há quem prefira ouvir as vozes do outro lado da parede, do que interagir com os locutores.

De repente, descobri que sou constante e que meu olhar conta histórias.

De repente, descobri e pronto!

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Misturança

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Um palco.
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Uma platéia que compõe o cenário.

As cortinas vermelhas e a minha paixão vermelho-vivo se incorporam.
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É chegada a hora!
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Bem-vindo momento de brilhar na paixão do teatro.
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Inspiração.

Transmutação.

Sons.

Ultrasons.
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O corpo ouve.

O corpo responde.

O corpo baila.

O corpo pára.
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Os demais corpos estremecem, vibram: são as palmas.
.



"Já estive várias vezes no espaço,
gabou-se o cosmonauta,
"e nunca vi Deus, nem anjos".
"E eu já operei muitos cérebros inteligentes",
respondeu o neurologista,
"e também nunca achei um único pensamento".
Não é a Tamara, de hoje, que chora, mas a criança de ontem.

O dia das lágrimas se secarem está muito próximo por vir...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Photo by Tamara Queiroz

Uma supernoite escura, um céu hiperestrelado, nunca visto ante aquele dia em Barra do una, e um violão tocando baixinho na minha mente.

Vê como a vida é feita de puro estar?



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Guarda do Embaú/ SC

Photo by Tamara Queiroz


Guarda
baú
de sensações.


Guarda
baú
de beleza rara.


Guarda
baú
de areias finas.


Guarda
baú
de águas claras.


Guarda
baú
de tranqüilidade.


Guarda
baú
o meu tesouro.

domingo, 20 de janeiro de 2008

domingo, 6 de janeiro de 2008

sábado, 5 de janeiro de 2008

Como choram os pássaros?

Eu chorei

- como uma criança que sai do ventre materno! -

quando saí de dentro do carro tombado.


Nunca mais vou me queixar
que o dia 25 de dezembro
perdeu o significado.