quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Vale andar descalço do que tropeçar com os sapatos dos outros

Por Mia Couto* e Tamara Queiroz

O mais importante é uma NOVA atitude. Se não mudarmos de atitude não conquistaremos uma condição melhor.

É preciso ser construtor do futuro.

É preciso gerar um pensamento produtivo, ousado e inovador. Um pensamento que não resulte da repetição de fórmulas e de receitas já pensadas.

Há sete sapatos sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos:

1º Sapato Sujo: A idéia que os culpados são sempre os outros e nós somos sempre as vítimas:

Estamos sendo vítimas da desresponsabilização.

"Caros irmãos: estou completamente cansado de pessoas que só pensam numa coisa: queixar-se e lamentar-se num ritual em que nós fabrcamos mentalmente como vítimas. Choramos e lamentamos, lamentamos e choramos. Queixamo-nos até à náusea sobre o que os outros nos fizeram e continuam a fazer. E pensamos que o mundo nos deve qualquer coisa. Lamento dizer-vos que isto não passa de uma ilusão. Ninguém nos deve nada. Ninguém está disposto a abdicar daquilo que tem, com a justificação que nós também queremos o mesmo. Se quisermos algo emos que o saber conquistar. Não podemos continuar a mendigar, meus irmaos e irmãs."

Chika A. Onyeani

2º Sapato Sujo: A idéia de que o sucesso nasce do trabalho:

O que explica a desgraça mora junto do que justifica a bem-aventurança.

3º Sapato Sujo: O preconceito de quem critica é o inimigo.

4º Sapato Sujo: A idéia que mudar as palavras muda a realidade:

A aparência passou a valer mais que a capacidade para fazermos coisas.

Em lugar de soluções encontram-se problemas. Em lugar de ações sugerem-se novos estudos.

5º Sapato Sujo: A vergonha de ser pobre e o culto das aparências:

Estamos vivendo num palco de teatro e representações: tudo é um passaporte para o estatuo de importante, uma fonte de vaidades.

É urgente que as nossas escolas exaltem a humildade e a simplicidade como valores positivos.

São enganações de quem toma a embalagem pelo conteúdo: a arrogância e o exibicionismo.

6º Sapato Sujo: A passividade perante a justiça.

7º Sapato Sujo: A idéia de que para sermos modernos precisamos imitar os outros:

A vergonha de sermos quem somos é um trampolim para vestirmos a outra máscara.

Fala-se muito dos jovens e fala-se pouco com os jovens. Ou melhor, fala-se com eles quando se convertem num problema.

A escola é um meio para querermos o que não temos. A vida, depois, nos ensina a termos aquilo que não queremos.

Temos que gostar de nós mesmos, temos queacreditar nas nossas capacidades. Mas esse apelo ao amor-próprio não pode ser fundado numa vaidade vazia, numa espécie de narcisismo fútil e sem fundamento.




*Mia Couto adora gatos e por isto ganhou este apelido do seu irmãozinho , por ele também não conseguia dizer "Emílio". Grande escritor moçambicano.


4 comentários:

Felipe Fanuel disse...

Tamara,
Obrigado por nos lembrar dos sapatos sujos que continuamos a calçar todos os dias!

Alysson Amorim disse...

Tamara.

Sem dúvidas, vale a pena deixar estes sapatos de lado e sentir em nossos humildades pés descalços a relva do campo, a areia da praia, o beijo suave da maré...

Bjs. Bom final de semana

Alysson Amorim disse...

digo: "humildes pés"

Elsa Sequeira disse...

Olá!
paseei por cá!!!
Gostei muito da tua reflexão!
Muita força!!!

Beijinhos portugueses!

:))