quarta-feira, 15 de abril de 2009

A(r)mada

Estou aqui. Como uma janela para ver a rua. Desgarrando-me desse modo insensível e progressivo que insistem conduzir.

Tema. Ando por aí com uma arma terrível: meu silêncio.



PS: Adorei escrever isto ao som do amor dos gatos no telhado


Hoje

Hoje.
Hoje.
Hoje.
Hoje
Hoje
Hoje
HOj
HOj
Ho
Ho
HO
H
H
H
h
h
h



Água mole em pedra dura.
Tanto bate até que fura.



domingo, 12 de abril de 2009

Minha doguinha

Eu quero ver a Belinha.
Eu sinto saudade dela.
Agora, sentirei saudade eternamente.
Eu não vi a Belinha.
Cadê aquela criaturinha que, todos os dias, me esperava chegar da faculdade com carinho. Cadê? Aquela que sentia meu cheiro de longe, aguardava no portão eu dizer: Beziiinha. Subia correndo as escadas e lá do alto me olhava pedindo colinho.
Ela se foi para sempre para longe de mim.
Eu não quero esse sol eterno que toca a minha janela, se aqui dentro de repente tudo ficou frio.
Eu sei que a Belinha adorou conhecer o mar, mas eu não estava lá com ela, vendo seus charmosos olhinhos brilharem, seu rabinho balançando e todo o seu pequeno corpo estremecer de alegria. Porque ela tinha uma alegria diferente das estrelas. Porque era assim todas as vezes que lhe apresentava algo novo.
Ela me olhava como quem sabia de tudo. Ela não olhava para uma humana que não compreendia os seus latidos. Porque seus olhos se conectavam diretamente com a minha alma, com o que sou. E era a única que demonstrava de modo singelo que gostava do que via. O resto é apenas dispersão.
Ela pedia o que ninguém mais pede: um pouco mais de amor. Um amor na sua essência com menos superficialidade e interesse.
Quando eu a abraçava, o seu corpo demonstrava claramente o quanto gostava disto. E eu sei que nunca mais vou sentir isto novamente. Porque as pessoas não são capazes de se entregar à magia do abraço. Porque as pessoas têm medo de sentir.
Quando eu chorava, lá vinha ela rasteiramente tocar o seu focinho no meu queixo para que eu a apertasse e, então, me lambia até me fazer rir. Onde ela está agora? Minhas lágrimas não param. Eu não ouço mais o barulho das suas patinhas correndo em minha direção.
Ela latia agudo demais pedindo para ficar comigo dentro de casa, mas por conta de móveis que ficaram... ela não podia entrar. Apesar de ter permitido (escondido) várias vezes que ela entrasse e se acolhesse no sofá comigo. Ela fazia aquela bolinha com o corpo. Suspirava e adormecia tranquilamente.
Sei que ela era apaixonada por mim e que eu vou sentir mais falta do que já sentia.
O sol está fraco agora. Já já também é hora dele partir. Mas amanhã ele voltará e continuarei sem a Bezinha por toda a minha frágil eternidade.
Ela faleceu no dia 10/04 e só fiquei sabendo hoje. Na quinta-feira, repentinamente, disse ao meu pai que parecia não me ouvir:
- Quero ver Belinha. Saudade Belinha.
O que eu vou fazer com todo esse amor que existe aqui dentro? Se não encontro quem queira mergulhar profundo? E só encontro pessoas que demonstram gostar de viver na superfície.
Juntas não pensávamos, não racionávamos, não falávamos porque era assim que nos entendíamos.
É a segunda vez que eu não pude me despedir dela*.
Eu gostaria de ver a cachorrinha que viveu com ela nos últimos tempos. Que também, dizem, está tristinha. Talvez, ela me diga alguma coisa que os humanos não sabem dizer.



*A primeira, minha mãe colocou-a no carro de um amigo dela, para morar com um pessoal no praia, sem me avisar. Pois aqui, alegava, ela ficava muito tempo sozinha. Agora, eu estou completamente sozinha e quero ir para a praia.




Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar
Sophia de Mello Breyner Andresen




sexta-feira, 10 de abril de 2009

Essência

E de repente a minha vida ganhou uma importância incompreendida pelas pessoas comuns. Sei que estou sozinha e ando alegre e triste a sentir o prazer da existência.












Ouvindo baixinho uma canção
que toca profundo e alto


SAMBA DA BÊNÇÃO
Vinicius de Moraes/ Baden Powell


Cantado


É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não

Falado

Senão é como amar uma mulher só linda
E daí?
Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão

Cantado


Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não

Falado


Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba


Cantado


Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração


Falado


Eu, por exemplo, o capitão do mato
Vinicius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil
Na linha direta de Xangô, saravá!
A bênção, Senhora
A maior ialorixá da Bahia
Terra de Caymmi e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha
Tu que choraste na flauta
Todas as minhas mágoas de amor
A bênção, Sinhô, a benção, Cartola
A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres
A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pereira
A bênção, meu bom Cyro Monteiro
Você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel, sua bênção, Ary
A bênção, todos os grandes
Sambistas do Brasil
Branco, preto, mulato
Lindo como a pele macia de Oxum
A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim
Parceiro e amigo querido
Que já viajaste tantas canções comigo
E ainda há tantas por viajar
A bênção, Carlinhos Lyra
Parceiro cem por cento
Você que une a ação ao sentimento
E ao pensamento
A bênção, a bênção, Baden Powell
Amigo novo, parceiro novo
Que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos
Não és um só, és tantos como
O meu Brasil de todos os santos
Inclusive meu São Sebastião
Saravá! A bênção, que eu vou partir
Eu vou ter que dizer adeus

Cantado

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração