terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A Sós em Ilha Comprida

(música: hoje eu quero sair )

O mar abre seus imensos olhos verdes e derrama sua força através de ventos úmidos. Eu movimento o corpo em ritmo assanhado junto com a espuma brilhante, sem receios e sem timidez. A pele eriçada, pela visão distante do verde-vivo dos montes, realça o novo bronzeado. As dunas imperfeitas e contrastantes inclinam sombras acanhadas aos caranguejos. As lentes dos meus óculos escuros registram o que vejo além do que é simplesmente visto. Meus pés rodam amimados pela areia rosa-mel e fazem-me abrir os braços para o céu-de-ai-meu-deus. Nado nua nas penetrantes águas que saciam minha sede de estar . Contemplo as asas alongadas dos pássaros p&b. Converso comigo mesma e acalmo o meu ser que sente por si . Ando até fazer a curva final da extensa ilha de 74 quilômetros. Passam duas bicicletas que jorram festa de água para todas as direções, conferindo ainda mais movimento ao momento. Eu respiro e transpiro prazer. Esboço sorrisos lentos ao sentir na sola as conchinhas crocantes. Umedeço os lábios de maré cheia e cansada refaço todo o trajeto ao contrário. Quase ao fim, reencontro os meus amigos. Eles me convidam a trilhar o mesmo caminho e aceito levemente embriagada de alegria. No fim da tarde, assistimos o sol jogar seus raios no céu.

Vale também lembrar das bananinhas naturais sem açúcar da nossa vizinha xamânica cheia de tatuagens. Do susto que levei com o pescador que pegou uma madeira na areia, se aproximou para perguntar se eu tinha visto alguém passar com uma faca e me pediu um beijo. Das minhas peripécias no volante. Da linda estrada de Cananéia...



quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A Feira

(continuação)

Nos braços, as sacolas de plástico engancham nos parafusos enferrujados das juntas. Corro com os calcanhares quebrados ao ouvir vozes exorcizadas vender pedaços frescos de gente a baixo custo. Esbarro esquizofrenicamente com um homem, sentado na esquina da vida, de mãos coloridas de sangue que mete entranha em entranha; que engorda o próprio corpo com outro corpo. Ele vilmente roda na ciranda dos sentimentos alheios com uma loira exuberante de ventre aberto. No girar, no balançar, ela pari sua criança que rasga os pulmões atravessados de fumo. Enquanto isso... estou a lançar pela boca todo o conteúdo gástrico de uma vaidade ferida: estar morto é sonhar sempre; é não ter filhos nem fome no ventre, é nunca mais se querer suicidar!



sábado, 6 de dezembro de 2008

Surpresa

Dannutti andava pela rua com um prazer estranho. Sentou-se na escadaria. Discou para um número e deitou-se numa cama misteriosa com um desconhecido - o seu noivo nunca desconfiou. Três anos se passaram e ela descobriu que fora traída. Não pôde perdoá-lo. Não pela traição. Mas por ele não ser capaz de guardar um segredo.