sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Cotidiano ferrado

Às dez e trinta da manhã, haviam dez mulheres reunidas: uma delas era odiada por todas, que se chamava Fergrana. Esta iniciou a discussão dirigindo-se a uma empresária:
"Você providenciou àquela encomenda? Lembre-se que o tamanho da pessoa é difícil de achar no mercado".
"Não estamos preocupadas com isso, há outras coisas mais importantes para fazermos" - uma voz estremecida retrucou.
Fergrana não perdia tempo em alfinetar algumas delas. Dizia que a filha da comerciante era amante do namorado da filha da professora. Exibia suas jóias, discordava de tudo e de todos. Comentava que o marido da administradora era um alcoólatra. Era grosseira, desatenta e até certo ponto ignorante. Porém, conseguia dizer e fazer tudo de forma sutil.
Certo dia, Marimonga saiu chorando da sala de reunião, ela não agüenta mais o clima pesado naquele lugar. Outras a seguiram e foram saber o que havia ocorrido.
"Ah! Deve ser mais uma das frescuras depressivas dela. Se eu fosse vocês não perdia o tempo com isso" - resmungou nossa vilã. Que fechou um contrato sem a opinião das ausentes.
Um outro dia, no banheiro, estavam as nove reunidas. Exaltadas e saturadas. Ali mesmo foi um bláblá, um bafafá horrível. Concórdia falava mais alto que Patriência, Marimonga se engasgava ao chorar, do outro lado Ingrid balançava a cabeça inconformada. Saíram todas dispostas a expulsar a grã fina da comissão. Chegando no devido recinto, foram supreendidas:
"Sentem-se, por favor. Tenho a honra em lhes dizer que mesmo que nossa meta não seja alcançada, eu irei patrocinar o nosso evento" - o queixo de cada uma caiu harmoniosamente e os dias delas se tornaram por demais longo.

Nenhum comentário: