domingo, 12 de abril de 2009

Minha doguinha

Eu quero ver a Belinha.
Eu sinto saudade dela.
Agora, sentirei saudade eternamente.
Eu não vi a Belinha.
Cadê aquela criaturinha que, todos os dias, me esperava chegar da faculdade com carinho. Cadê? Aquela que sentia meu cheiro de longe, aguardava no portão eu dizer: Beziiinha. Subia correndo as escadas e lá do alto me olhava pedindo colinho.
Ela se foi para sempre para longe de mim.
Eu não quero esse sol eterno que toca a minha janela, se aqui dentro de repente tudo ficou frio.
Eu sei que a Belinha adorou conhecer o mar, mas eu não estava lá com ela, vendo seus charmosos olhinhos brilharem, seu rabinho balançando e todo o seu pequeno corpo estremecer de alegria. Porque ela tinha uma alegria diferente das estrelas. Porque era assim todas as vezes que lhe apresentava algo novo.
Ela me olhava como quem sabia de tudo. Ela não olhava para uma humana que não compreendia os seus latidos. Porque seus olhos se conectavam diretamente com a minha alma, com o que sou. E era a única que demonstrava de modo singelo que gostava do que via. O resto é apenas dispersão.
Ela pedia o que ninguém mais pede: um pouco mais de amor. Um amor na sua essência com menos superficialidade e interesse.
Quando eu a abraçava, o seu corpo demonstrava claramente o quanto gostava disto. E eu sei que nunca mais vou sentir isto novamente. Porque as pessoas não são capazes de se entregar à magia do abraço. Porque as pessoas têm medo de sentir.
Quando eu chorava, lá vinha ela rasteiramente tocar o seu focinho no meu queixo para que eu a apertasse e, então, me lambia até me fazer rir. Onde ela está agora? Minhas lágrimas não param. Eu não ouço mais o barulho das suas patinhas correndo em minha direção.
Ela latia agudo demais pedindo para ficar comigo dentro de casa, mas por conta de móveis que ficaram... ela não podia entrar. Apesar de ter permitido (escondido) várias vezes que ela entrasse e se acolhesse no sofá comigo. Ela fazia aquela bolinha com o corpo. Suspirava e adormecia tranquilamente.
Sei que ela era apaixonada por mim e que eu vou sentir mais falta do que já sentia.
O sol está fraco agora. Já já também é hora dele partir. Mas amanhã ele voltará e continuarei sem a Bezinha por toda a minha frágil eternidade.
Ela faleceu no dia 10/04 e só fiquei sabendo hoje. Na quinta-feira, repentinamente, disse ao meu pai que parecia não me ouvir:
- Quero ver Belinha. Saudade Belinha.
O que eu vou fazer com todo esse amor que existe aqui dentro? Se não encontro quem queira mergulhar profundo? E só encontro pessoas que demonstram gostar de viver na superfície.
Juntas não pensávamos, não racionávamos, não falávamos porque era assim que nos entendíamos.
É a segunda vez que eu não pude me despedir dela*.
Eu gostaria de ver a cachorrinha que viveu com ela nos últimos tempos. Que também, dizem, está tristinha. Talvez, ela me diga alguma coisa que os humanos não sabem dizer.



*A primeira, minha mãe colocou-a no carro de um amigo dela, para morar com um pessoal no praia, sem me avisar. Pois aqui, alegava, ela ficava muito tempo sozinha. Agora, eu estou completamente sozinha e quero ir para a praia.




Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar
Sophia de Mello Breyner Andresen




2 comentários:

Guria disse...

Não gosto nem de ler coisas sobre cachorro que me dão vontade de chorar até, eu não sei mas sempre gostei muito mais de animais do que de humanos... na verdade animal reclama, chora, morde... mas se gosta é de verdade sem segundas intenções... já os humanos não precisamos nem falar... sabe que quando penso que algum dia posso perder o meu cachorrinho "Chokito o nome dele" meu coração já começa a doer.
Ahhhhh triste
Como tu tinha perguntado, faço faculdade de Design de Interiores.

Beijos queridaaa, estava com saudade

Lizzie disse...

Incrível como nos apegamos aos animais.
Mas ela há de ficar bem. Aliás, deixou pra você belas lembranças. Pena que duram tão poucos esses bichinhos.


Um beijo!
www.lizziepohlmann.com