quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Algum Sentido

(um dedo de Pessoa)


Da janela só um girassol.

No não lá-fora chove.

O vento varre a idéia do perfume da saia de flores murchas estampadas.

Sente-se o ar sorrir: é alguém que vai entrar pela porta.

A transparência das cores das flores acende o som da chuva que o alaga por dentro.

O espaço pára, escorrega, desembrulha-se.

Bailam lá fora redemoinhos de sol, cavalos de carrossel, árvores, pedras, montes, noite absoluta de luar no dia de sol lá fora.

De repente, sacode esta hora dupla como uma peneira misturando o pó das duas realidades.





centopéia pipoca murcha
macacos bate-bate avenidas pretinho original

4 comentários:

Felipe Fanuel disse...

"Sentir é estar distraído." Já que Pessoa jaz aqui, deixe-me também dar a minha cartada filosófico-poética, bem ao modo "tamaresco", perguntando se há algum sentido em tudo isso.

Tamara Queiroz disse...

É querido... é um modo bem tamaresco/ pessoano de descrever o ACONTECIDO BEIJO.

Janete Cardoso disse...

rsrsrsr Tamarescamente lindo!
Adorei este verso em especial: "Sente-se o ar sorrir: é alguém que vai entrar pela porta."
Ai, que delícia!

beijão

Anônimo disse...

É uma delícia esse teu versejar, Tamara. Fiquei imaginando a cena, vendo o girassol pela janela e sentindo a alegria da natureza, e a vontade da chegada de alguém.
Adoro tua escrita!

Beijocas
Tenha um lindo domingo!
www.lizziepohlmann.com