quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A Feira

(continuação)

Nos braços, as sacolas de plástico engancham nos parafusos enferrujados das juntas. Corro com os calcanhares quebrados ao ouvir vozes exorcizadas vender pedaços frescos de gente a baixo custo. Esbarro esquizofrenicamente com um homem, sentado na esquina da vida, de mãos coloridas de sangue que mete entranha em entranha; que engorda o próprio corpo com outro corpo. Ele vilmente roda na ciranda dos sentimentos alheios com uma loira exuberante de ventre aberto. No girar, no balançar, ela pari sua criança que rasga os pulmões atravessados de fumo. Enquanto isso... estou a lançar pela boca todo o conteúdo gástrico de uma vaidade ferida: estar morto é sonhar sempre; é não ter filhos nem fome no ventre, é nunca mais se querer suicidar!



2 comentários:

Anônimo disse...

A feira (não?) pede filhos e fome no ventre...

Gostei muito da "Surpresa"!


Abraços, flores, estrelas..

Felipe Fanuel disse...

Morrer é tão necessário quanto nascer.