UM SOPRO.
Meus ouvidos se atentam e meus olhos permanecem concentrados na leitura. Novamente um barulho, desta vez é o relógio que me avisa que já são meia noite e quarenta e nove. Mas até agora o sono não veio.
"Hoje o sol apareceu, as pessoas sorriram. Era primavera e eu podia sentir o perfume das flores, o canto alegre dos pássaros, mesmo na cidade grande. E tudo isso me contagiou, me fez sentir mais viva, mais feliz, como a muito tempo não me sentia" - meu último pensamento.
O TELEFONE toca.
Que susto!Aproximo-me e vejo na bina que é uma amiga querida. Resolvo não atender porque já passava das duas da manhã. Era o meu terceiro bocejo, ora de sono, ora de cansaço. Também era o terceiro toque, esperei o quarto e ao estender a mão para atender... a campainha pára. Talvez, não fose tão importante.
Perdi a conta do número de vezes que abri a boca. Decidi não lutar contra: fui deitar. Percebi que era noite de lua cheia e de céu estrelado. Muito estranho isso e ao mesmo tempo encantador. Que noite misteriosa, calada. Só conseguia ouvir a minha respiração. E isso me fez sentir só. Logo, os meu olhos se fecharam.
UM SONHO surreal: vejo flores, muitas flores.
"São para você, meu bem" - ouço uma voz.
"Para mim? Nem é meu aniversário".
"Claro que não e sei disso. E também sei que as adora, não é mesmo?"
"Sim, elas são lindas! Obrigada."
Daí observei que o conhecia de algum lugar. Bonito, charmoso, olhos azuis, loiro e com um sorriso safado. Nossa! Não posso acreditar, é ele, é ele... o Braaaad PITT. Neste exato momento ele estende a mão para mim e penso:
"Cadê a minha câmera digital uma hora dessas?"
"Vamos?" - ele me convida.
Eu o segui sem pensar duas vezes. Ele me levou até um lago e nunca antes eu tinha visto o meu rosto refletido em águas cristalinas. Podia sentir com os pés descalços as pedras pontiagudas pelo caminho. Olho para o céu e um orvalho cai em meu rosto. Depois cinco, dez, seiscentos... uma chuva. Saímos correndo em disparada para uma cabana ali próxima.
De repente um clarão, muitas vozes. Fiquei toda arrepiada e aquela luz me deixou cega por instantes. Estava sozinha outra vez. Ao meu redor flores murchas e lá fora muito barulho. Era uma multidão reunida, algumas até choravam. Tentei sair daquele lugar, porque até o perfume das rosas me incomodava. Mas algo me impedia, estava completamente imobilizada. Um vulto passou. Ufa! Era o Brad. As vozes, os passos estavam cada vez mais perto, mais alto e eu não conseguia fazer nada.
"O que está acontecendo? Alguém me tira daqui, por favor" - gritei desesperadamente.
Fui atendida e minha amiga apareceu. Ela me deu um beijo e uma lágrima escorreu...
"Por que você não atendeu ao telefone ontem?" - parecia brava comigo.
Tentei explicar que ia atender, mas, mas minha língua tra-travou.
"Vou sentir sua falta. Descanse em paz".
Hein? E lá se foi sem me dar nenhuma explicação.
Do nada ouço passos de novo. Sem mais nem menos uma oração. Um coro, na real. E eu só conhecia uma voz triste, a do Padre Beethoven. E também a da minha mãe e a do meu irmão.
(...)
O silêncio foi interrompido:
"Amiga, por que você foi morrer assim? Não, não me tirem daqui. Eu quero ficar com ela, até o último instante. Nãaaaaaaaaaaaao..."
O SOPRO foi a minha última respiração.
O TELEFONE tocou e não foi atendido, por que será?.
O SONHO real: minha morte despercebida.